Recibo

Os amigos escrevem questionando a ausencia de textos. Eu gosto de publicar as paradas, mas, ando muito atarefado. De qualquer modo, fico contente que sintam falta. Eu gosto de compartilhar as coisas com vocês, com algumas figuras que eu nunca nem vi, e que frequentam essa página. Outros leitores, são amigos, gente do Rio Grande do Sul, minha terra querida, colegas de Santa Catarina, que muito me honram com suas amizades e gente do Paraná, estado que me educa e me ensina sobre as sutilezas do ser humano. E é justamente por conta do curso que ando ocupado, cansado e distante. mas, a gente vai se falando. Eventualmente publico algo que interessa a alguém, ou, sei lá, algo que alguém precisava ler, ou ver ou sei lá…encontrar. Só por essa razão já vale a pena. É só por ela que escrevo.

O fim está próximo, infelizmente para alguns de vocês, pois me refiro ao fim do semestre, o que significa que terei férias e possivelmente tempo para voltar a publicar. Enfim, fico grato pelas indagações e reclamações que me são enviadas…as recebo como gestos de carinho!

Mas é isso por hora, cuidem-se!

o carpinteiro

Que todos vocês gozem de uma bela semana!

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Adeus capitão

Eu lembro de ter pedido um cigarro pra ele. Ele me deu um maço. É que ele tinha dois maços. É assim que vou lembrar dele, como um sujeito generoso. Quando nos conhecemos, foi amizade de primeira, manja?!. Ele jogava muito mal, mas era divertido escalar ele para o time.

Teve uma época que eu, ele e o Diego terminamos nossos repectivos namoros. A gente passava as tardes bebendo, e a noite, saiamos e arranjavamos brigas com os skatistas. A gente bebia pra caramba.

Lembro que morei no mesmo prédio. A gente fritava macarrão e assistia filmes B todo dia. fizemos aquele telefone com copos de plástico, manja? a gente se falava pelos telefone improvisado. Ele era vizinho de janela nessa época. No meio da noite ele puxava o fio, e eu sabia que ele ia convidar para tomar um tereré.

Bons tempos. Bons amigos. Ele virou pai há dois anos. Me mostrou as foto no bar. O Maicon, capitão, resolveu que deu pra ele, e resolveu passar uma corda no pescoço segunda-feira. Ele devia estar muito triste, muito cansado. Porra capitão, deixaste tua filha…e eu simplesmente não consigo aceitar o fato de que tu não está mais entre nós. É inacreditável. O Maicon nos deixa, e a cidade fica cada dia mais povoada de fantasmas. Vai deixar muita saudade. Muita.

Essa é pro meu amigo Maicon, que deixa uma filha e muita saudade nos amigos;

buzinaço!

coisas para saber- morar sozinho

SINGELO

boa semana a todos!

Saco de ratos blues- balada pra quem não me quis

Lucius

É preciso muito mais do que um guitarrista disposto e bem intencionado para se fazer rock’n’roll.

Papai falava de Lucius com solenidade, como se estivesse se referindo á alguma divindade. É preciso mais do que devoação para se criar um mito.

Lucius era um escravo alforriado, negro como poucos negros de hoje conseguem ser. Era forte, imponente e ao mesmo tempo, um homem dócil. Muito dócil. Segundo consta, era o melhor pugilista daqueles pagos. Segundo dizem, ninguém podia com seus jabs. Seu gancho era sinônimo de nocaute. Papai cresceu com Lucius. Na verdade, Lucius nem chegou a ser escravo. Seu pai fora, ele nasceu homem livre – mas isso descobri depois, e não através do pai, que parecia deliberadamente criar um mito. Lucius foi primeiro de uma linhagem de homens livres.

Lucius ganhou alguns trocados ao longo da vida em brigas de rua. Ele era o melhor. Papai dizia que o viu enfrentar todos os homens desta província, homens de províncias vizinhas e até de outros países sem nunca levar um golpe. Eu ouvia essas histórias com devoção, e para mim, que ouvia essas histórias desde criança, a imagem do herói era a de um homem negro.

Quando papai disse que Lucius estava a caminho da cidade para revê-lo, pensei que seria o momento mais importante de minha vida, afinal, ouvira as histórias do herói com devoção a infância toda, e agora, finalmente, teria a chance de conhecer meu herói.

Eu passava os dias a imaginar o encontro, papai, Lucius e eu, a matear e relembrar velhas brigas. Batalhas intermináveis, nocautes e momentos de glória.

Lucius havia abandonado a cidade anos antes, papai dizia que ele estava  cansado de ser procurado apenas para confrontos, de modo que ele foi para muito longe, local onde sua fama ainda não havia chegado.

Quando encontrei Lucius não vi nenhum herói. Era apenas um velho cansado com roupas surradas, não havia nenhum heroísmo naquele homem. Era apenas um homem cansado ao fim da vida, conversando trivialidades com um velho amigo. As histórias não encontravam porto naquela figura. O herói e sua decadência. O orgulho de batalhas distantes já não significavam muita coisa para aquele homem, não o envaideciam mais. Sua vaidade, seus netos, de quem falava com orgulho.

O tempo não tem a mesma ação sobre todos, e Joey Vibora aparentemente não aceitara o fato de ter perdido alguns duelos no passado. Sabendo da visita de Lucius, armou a emboscada.

Dois tiros. Não matou o herói que o havia enfrentado décadas antes. Matou apenas um velho cansado, com roupas surradas e que sentia orgulho dos netos.

É preciso mais do que coragem para ser um homem de verdade. É preciso mais do que glórias para ser um herói.

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Vai parecer estranho a maioria dos leitores…mas o herói da crônica recebe este nome em homenagem ao Lucio, camisa 3 da seleção.